A recente decisão do Tribunal Superior do Trabalho (TST) trouxe um impacto significativo ao universo jurídico brasileiro. Por unanimidade, a 6ª Turma do TST indeferiu um recurso que buscava validar a cessão de precatórios de um trabalhador para seu advogado em uma ação trabalhista. Essa prática, conhecida como “compra de precatórios“, foi considerada antiética, violando princípios fundamentais da advocacia. Mas o que isso significa para o trabalhador, o advogado e o sistema jurídico? Este artigo explora os detalhes dessa decisão, suas implicações e o que ela revela sobre a ética profissional no Brasil.
O que são precatórios e por que são tão importantes?
Precatórios são ordens judiciais que determinam o pagamento de dívidas públicas a cidadãos ou empresas. Frequentemente, surgem em ações trabalhistas, como no caso em questão, envolvendo a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT). Para muitos trabalhadores, o precatório representa a conquista de direitos após longos processos judiciais. Contudo, o pagamento pode demorar anos, o que leva alguns a considerar a cessão desses créditos.
Por que alguém cederia um precatório? A resposta está na urgência financeira. Imagine um trabalhador que, após anos de luta judicial, finalmente obtém uma sentença favorável, mas o governo demora para quitar a dívida. A tentação de vender esse crédito por um valor imediato, mesmo que menor, é grande. É nesse cenário que a prática de cessão entra em cena, mas com ela vêm questões éticas complexas.

A decisão do TST: Um marco ético
A 6ª Turma do TST, sob relatoria do ministro Augusto César, decidiu que advogados não podem adquirir precatórios de seus próprios clientes. Embora a Constituição Federal permita a cessão de precatórios, o tribunal entendeu que, nesse caso, a transação configura um conflito de interesses. O advogado, ao atuar como defensor do cliente, deve priorizar os interesses dele, e não buscar lucrar com a compra de seus créditos.
Por que a prática foi considerada antiética?
A decisão do TST baseia-se em princípios éticos estabelecidos pelo Código de Ética e Disciplina da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Comprar um precatório do cliente sugere que o advogado pode se beneficiar financeiramente em detrimento do trabalhador. Por exemplo, o advogado poderia adquirir o crédito por um valor bem abaixo do devido, lucrando significativamente quando o precatório for pago. Isso cria uma relação desigual, onde o profissional, que deveria proteger o cliente, assume o papel de comprador.
Além disso, o TST considerou que tal prática pode ser vista como uma infração disciplinar. O Código de Ética da OAB proíbe condutas que comprometam a confiança entre advogado e cliente. Assim, a decisão reforça a necessidade de transparência e integridade na advocacia.
O contexto do caso: Correios e um trabalhador
O caso julgado envolveu um trabalhador que venceu uma ação contra a ECT. Após a vitória, ele cedeu seu precatório ao advogado que o representou. O recurso apresentado ao TST buscava legitimar essa cessão, mas a corte foi firme: a relação advogado-cliente exige imparcialidade. A decisão unânime da 6ª Turma demonstra a gravidade do tema e a determinação do tribunal em coibir práticas que possam prejudicar o trabalhador.
Veja o processo: EDCiv-RR-2333-57.2015.5.22.0002
O papel do ministro Augusto César
O relator, ministro Augusto César, destacou que a compra de precatórios por advogados pode configurar enriquecimento indevido. Ele argumentou que o advogado, ao adquirir o crédito, deixa de atuar como defensor e passa a ser parte interessada no processo. Essa dualidade de papéis compromete a confiança essencial à relação jurídica.
Impactos para trabalhadores
Para os trabalhadores, a decisão é um alerta. Muitos, pressionados por dificuldades financeiras, podem ver na cessão de precatórios uma solução rápida. No entanto, a prática pode resultar em perdas significativas. Imagine vender um precatório de R$50.000 por apenas R$20.000 devido à urgência. O advogado, ao comprá-lo, poderia receber o valor total posteriormente, lucrando às custas do cliente. A decisão do TST protege o trabalhador, garantindo que ele não seja explorado em momentos de vulnerabilidade.
Como os trabalhadores podem se proteger?
Os trabalhadores devem estar atentos aos seus direitos. Aqui estão algumas dicas para evitar problemas com precatórios:
- Consulte a OAB: Antes de ceder um precatório, verifique se a transação é ética e legal.
- Busque orientação independente: Um advogado diferente ou um contador pode oferecer uma visão imparcial.
- Entenda o valor real: Pesquise o valor de mercado do precatório antes de negociá-lo.
- Considere alternativas: Em vez de vender, explore opções como empréstimos com garantia de precatório.
Implicações para advogados
Para os advogados, a decisão reforça a importância de manter a conduta ética. A OAB já estabelece diretrizes claras sobre conflitos de interesse, e o TST apenas reforçou essas normas. Profissionais que insistirem em práticas como a compra de precatórios podem enfrentar sanções disciplinares, como advertências ou até suspensão do exercício da advocacia.
O que os advogados devem fazer?
Advogados devem priorizar a transparência e a confiança. Por exemplo, ao orientar um cliente sobre precatórios, o profissional pode indicar instituições financeiras especializadas em cessão de créditos, em vez de se envolver diretamente. Assim, evita-se qualquer suspeita de conflito de interesses.
O impacto no sistema jurídico
A decisão do TST não apenas protege trabalhadores, mas também fortalece a credibilidade do sistema jurídico. Quando advogados agem de forma antiética, a confiança na justiça é abalada. Ao proibir a compra de precatórios, o tribunal envia uma mensagem clara: a ética deve prevalecer acima de interesses financeiros.
E no futuro?
Essa decisão pode inspirar outras cortes a reforçar normas éticas em diferentes áreas do Direito. Por exemplo, práticas semelhantes em ações cíveis ou tributárias podem ser alvo de maior escrutínio. Além disso, a OAB pode intensificar a fiscalização para garantir que os advogados sigam o Código de Ética.
Por que essa decisão é tão relevante?
A relevância da decisão vai além do caso específico. Ela toca em questões fundamentais de justiça e equidade. Quantas vezes trabalhadores, em situações vulneráveis, não foram explorados por quem deveria protegê-los? O TST, ao proibir a compra de precatórios, coloca o interesse do trabalhador em primeiro plano, reforçando que a justiça deve ser acessível e ética.
Conclusão: Uma lição de ética e justiça
A decisão do TST de proibir advogados de comprarem precatórios de seus clientes é um marco na defesa da ética profissional. Ela protege trabalhadores de práticas potencialmente exploratórias e reforça a importância da confiança na relação advogado-cliente. Para o sistema jurídico, é um passo em direção à transparência e à equidade. Advogados e trabalhadores agora têm um norte claro: a justiça deve prevalecer acima de interesses financeiros.
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